LITURGIA DO 27º DOMINGO DO TEMPO COMUM

03/10/2010 19:38

Irmãos, até agora nada fizemos; vamos começar!

 

IRMÃS E IRMÃOS!
 
Após haver-nos dirigido parábolas fortes desde os capítulos anteriores, o Evangelho de Lucas nos oferece algumas lições que nos demais evangelhos estão num outro contexto. Aqui estão situadas no caminho que Jesus perfaz a Jerusalém. O tom destas lições,como das parábolas, dão o colorido real desta marcha pascal decisiva para a conclusão da obra de Jesus nesta terra. O texto oferecido é Lc 17,1-10.
 
Antes de tudo, uma prece que parece ser da comunidade orante que Lc conheceu:
 Aumenta nossa fé!
 
O que reflete, certamente, um momento de provação e de dúvida. As comunidades estavam em expansão. As hostilidades aumentavam. As primeiras crises de fé abalavam.Havia muitos que ansiavam um reconhecimento que consagrasse e confirmasse a nova maneira de viver. Os aplausos eram escassos e os desafios do serviço enormes. As promessas que consolavam não se cumpriam (p. ex. Felizes os que agora chorais, porque vos alegrareis - Lc 6,21...) O caminho de Jesus a Jerusalém não oferecia segurança.O caminho das comunidades no mundo grego também não. Lucas entende a situação e  oferece uma pista valiosa que só uma fé firme alcança. Ainda que seja pequena como um grão de mostarda, alcança.
 
O mundo atual e o Brasil neste dia eleitoral apresenta um quadro difícil. As elites estão alvoroçadas com a provável continuidade do projeto popular iniciado nos últimos tempos. Se se concretizar esta continuidade, não faltarão retaliações. As comunidades de fé estão convocadas a resistirem em sua oportunidade de se expressarem como jamais conseguiram. Os empobrecidos levantam a cabeça como jamais. Não se  trata de trocar de patrão. Não se trata tampouco de revanchismo dos oprimidos. É uma bandeira que se ergue, como dizia o advogado de acusação do assassino da Ir.Dorothy. Trata-se, sim, de uma oportunidade rara na história de jogar a canga secular fora e se vestir da roupa de serviço e trabalho. Mais liberdade e mais oportunidade, mais serviço e trabalho. E não julgar ter feito suficiente,mas apenas o que tem de ser feito agora

 

A resposta de Jesus sugere uma compreensão ousada do ato de crer: a fé leva a transplantar a amoreira de sua estabilidade terrena para o mar. Um contraste muito grande e desafiador. Sugere algo com toda a aparência de impossível. Pela lógica humana e pelo constraste apresentado. No fundo, seria como superar os obstáculos mais invencíveis como se não o fossem. Lc sabe que se trata de obstáculos humanos, por isso disse desde o início:
 para Deus nada é impossível (cf Lc 1,37).
 
 Pois, se é difícil, senão impossível, transplantar a amoreira para o mar,pela fé tudo se pode da parte de Deus em se tratando de transformação humana, social, política, cultural e eclesial. Não há lugar para desespero.O impossível obedece docilmente ao comando da fé...
 
Quanto à segunda parte do nosso texto, algumas Bíblias intitulam:lição de humildade. No entanto, mais que de humildade, trata-se de uma postura de dignidade. Quem faz como servo é servil. Contenta-se com o que fez. Não avalia o que fez. Cumpre ordens. Nada tem a dizer. No Reino, porém, o servo avalia e sempre considera pouco o que fez. A vocação de servo no Reino é reinar. São Francisco dizia nos seus últimos momentos:
 Irmãos, até agora nada fizemos; vamos começar!

Jesus põe palavras na boca do servo e o destaca assim na sua singularidade. No texto o patrão considera o servo e encontra o seu lugar ainda que depois da ceia. Pois na cultura oriental servo não tem expressão. Sua única expressão é fixar os olhos nas mãos de seus senhores, pois é manipulado pelas mãos (cf Sl.122). Aliás o servo se torna protagonista neste Evangelho e assim anunciador da boa-nova que traz: serfvir sem medida. Nas Bodas de Caná, é bom lembrar, são os servos que sabem de onde provém o vinho novo...(cf Jo 2,9).
 
O povo em sua maioria de empobrecidos ou pobres, muitos sujeitos à servidão ou mesmo à escravidão Brasil afora,se tornam protagonistas nestes dias. Um governo inteligente saberá captar sua expressão de há muito calada. E saberá oferecer a resposta adequada aos seus anseios. Se ainda perdura a condição de servir a quem está à mesa, depois de árduo dia de trabalho, aproxima-se o dia em que se sentará à mesa sem distinção. Aí o o Servo será o Cordeiro. (cf Lc 12,37).  
 

Voltar

Pesquisar no site

© 2010 Todos os direitos reservados.